segunda-feira, 30 de julho de 2012

Treze

Mudar as visões me interessa
mas ver com meus próprios olhos
é um ato de constante perigo
minha ótica é ilusória

Olhar para os lados antes de ser algo
olhar para o espelho e chorar
esse é o meu dia

Numa rua escura
eu tento me esconder
das luzes dos postes
da agonia cotidiana
Minha consciência
As engrenagens
me incomodam

Mas por favor
não te esqueça
de olhar para os dois lados
antes de cair
da janela do nono andar

quarta-feira, 25 de julho de 2012

cajú

Após meu dia de corridas
olho para o pódio
mas não há lugar para mim
e não há lábios em mim
no fim deste dia de corridas

junto com o cantor
disparo contra o sol

terça-feira, 24 de julho de 2012

suor

eu
agora que sou um homem
sem bússola alguma
faço uso de linguagem rebuscada
pra dizer que estou perdido

domingo, 22 de julho de 2012

sem nome


Obrigado por perguntar 
se eu vou bem
no meio de pessoas 
que nem ao menos se importam 
com a minha medíocre existência

sexta-feira, 20 de julho de 2012

amor e silêncio

Foram movimentos que eu não soube distinguir. Aquelas mãos. Brancas, frias, soltas, tagarelas. Caras e bocas, sorrisos, afirmações. Um colapso corporal complexo demais para os meus olhos. Era um homem e uma mulher. Um par. Cabelos cacheados, sorriso bonito no rosto e um diadema cor de madeira na cabeça. Ele de calça jeans e tênis, dentes amarelados e dedos finos como os meus. 
Havia uma química irônica entre eles. 
Eles estavam conversando com as mãos. Para mim aquilo era novo. Que poesias eram aquelas que eles estavam recitando?
Por fim, ela ficou calada, olhando o horizonte. Ele tocou no braço dela e movimentou as mãos e os braços de uma maneira que eu nunca havia pensado ser possível. Nada de extraordinário aconteceu durante três segundos. Uma lágrima brotou do olho lustroso dela. Ela o beijou, com fervor de quem ama. Quase falou. Quase gritou.
Eu não sei o que ele falou, com seus dedos finos e seus pelos do braço, mas deve ter sido algo memorável. 
O amor não precisa de palavras.

sábado, 14 de julho de 2012

Caim V















Que sou eu nesta tarde sombreada?
sem ossos nem tempestades
não tenho riquezas para minhas filhas
Que homem sou eu?
Onde sou?
não tenho fé
não sou homem
de deus 
não tenho nada
para oferecer aos outros
somente a mim mesmo

Sou o bastante 
para suprir meu eu
você se importa?
muito obrigado 
a estadia é serventia
independente do que sou
nesta tarde sombria
em que me escondo do mundo
para ser o anjo esquecido

Sou Caim
Sou anjo
Só não sei o que sou,
nesta tarde 
onde ninguém me vê.

Caim IV

Cavei fundo na vida
e pá nunca possuí
tirei de mim
todas as minhas carnes
fui-me embora
no meio da noite
somente em ossos
tirei meus ossos até a alma
e voltei sozinho
para a casa vazia

não havia ninguém a minha espera
não tinha noiva de vestido branco
eu não tive beijos de saudade
nem lágrimas em minha despedida
apenas havia solidão despejada
no jardim de ossos
que se fez o meu peito
e eu não tinha cachorros
não havia nada além de mim
naqueles dias serenos
em que eu morri

havia em mim doenças
há em mim perdões
saudade, angústias
solidão e mentiras
não irei me sustentar
enquanto houver luz

queima-me
sol

falta-me fé

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Caim III





















Essas filhas já não são minhas
meu ventre mora longe
em ilhas negras e infernos
já não as crio para mim
quem é meu me é distante
o que me pertence mora longe
fora do alcance de minhas mãos
mãos essas que eu renego
quando entro no mar
e nado para a ilha negra
Corpo meu que renego
entrego-me às minhas filhas
me deixo nadar neste mar
           tanto mar
para morrer sob este sol de inverno
e minha fé?
são pecados o que carrego no bolso
nessas temporadas de calor
em que renego meu corpo de anjo
caído em meio a cidade
de carros e fumaça
esguio e efêmero
Vou esvaziar minha caixa de correspondência
me chegam cartas de suicídio
veladas sob o ar dos pássaros
O homem que amo mora longe
onde as pedras não o tocam
onde ele joga esse jogo maldito
Suas medalhas estão à mostra
seu cachimbo e sua boina
não há para quem chorar
pois seu túmulo está preso
dentro de mim
e de mais ninguém

choro em mim
derreto-me
rezo pra quem?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

subsolista

faz-me falta
me faz falta

há um álbum antigo em minha casa
com uma capa chamuscada em sangue
e há cortes em meu peito
oriundos de não sei onde
as águas do passado
não correm em mim
as armas do passado
atiram
atiram
me ferem
confesso que tenho forças
para curar nada

não quero fotos
quero câmeras
não para mim
quero me esquecer
para lembrar mais dos outros

estou preso em quatro linhas

terça-feira, 10 de julho de 2012

eu não tenho o que escrever
ouvi dizer que os poetas
escrevem com o coração
e eu nunca tive um

caim

seu olhar na outra margem
se suicida contra a corrente
e já não bastam mais navios
com seus vapores inúteis
basta de sofreguidão
ele sofre o peso
de suas palavras
diz suas palavras;
é vida que já não basta
não tenho pecados bastantes
é fé que me falta
já não sei do que falo
sou o doença que não se cura
amedronto
já não me basta esta paisagem
se eu posso alcançá-la
já não me basta

basta

joão
embaixo da ponte
numa noite triste
seu corpo não é mais seu
pois vaga nas ruas d'água

domingo, 8 de julho de 2012

dia (:

Abri numa página antiga
revirada de rabiscos
percebi o valor do tempo
sorrisos sinceros
e trilhas sonoras
abri numa página antiga
e recomecei a rabiscar

quinta-feira, 5 de julho de 2012

chá

Uma xícara de saudade
para lembrar das outras xícaras
que não cabem nos nossos armários

matinal

são exatamente 5:20 da manhã. eu coloquei uma cadeira em cima da minha cama e estou olhando o céu matutino pela minha janela. Me sinto conectado com todas as pessoas que estão olhando para o céu neste momento. As luzes da rua ainda estão acesas. as roupas que a minha mãe colocou no alpendre estão na minha frente, mas ainda consigo ver um pedaço do céu, disposto por entre as folhas. a única coisa que eu queria dizer é que eu amo a Nina. Pena que ela não está aqui para eu falar. Mas ela sabe, esteja ela onde estiver.
Agora está chovendo. Isso é lindo.

enjoy the moment.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

meu poema

eu não quero escrever
aquele poema idiota
que todo mundo já escreveu
queria escrever algo novo
mudar minhas palavras
queria escrever em russo
em alemão
em francês
talvez seja mais fácil
tentar escrever algo bom
em uma língua estrangeira
faz tempo que não escrevo algo decente
faz tempo que não escrevo
que não choro
queria fazer as pessoas sorrirem
como eu sorrio quando leio
alguns poemas
faz tempo que meu poema
é só uma aglutinação
das palavras
e essas repetem
meu poema não é mais o mesmo
e é culpa deste computador
destas tecnologias novas
que me tiram do meu lugar
faz tempo que não sou eu
que escrevo aqui
sinto que estou me perdendo

queria escrever algo pra fazê-la feliz
pra fazer todo mundo feliz
mas já que não consigo
choremos juntos, caro leitor

terça-feira, 3 de julho de 2012

nina

e essa febre
de tudo
no mundo?
e esse vício
de poemas ruins?

tomaria uma dose de alegria
se você deitasse em minha cama

segunda-feira, 2 de julho de 2012

domingo, 1 de julho de 2012

inferno 6 , sobre as casualidades da madrugada


Sei que ando devendo poemas para vocês, mas o blog ainda é somente meu, e eu posto quando eu quiser - leia "eu posto quando tiver algo decente para vocês". É o que tem pra hoje.



Era uma hora da manhã. Alguns minutos a mais. Uma hora não tão usual para se estar acordado. Eu estava. Talvez não seja um hora tão usual para se estar com fome. Eu estava. Foi aí que eu decidi fazer miojo.
Miojo é um macarrão importado da china – produzido na frança – feito para preguiçosos, filhos com fome quando a mãe não está em casa, solteiros que não ligam para a saúde e para mim, acordado à uma da manhã e com fome de algo palpável.
Palpável seria uma bela de uma macarronada. O miojo ficava pronto em cinco minutos – em dez, se contarmos com o tempo da água ferver – e era a coisa mais parecida com uma macarronada que eu tinha disponível.
Eu pus a água para ferver na chaleira, na medida exata que eu precisaria para preparar o miojo na vasilha que mamãe fazia leite antigamente. Voltei pro meu quarto e abri um volume de Voltaire. “Tratado sobre a tolerância”. É madrugada de sábado. Tenho que ler este livro até a madrugada de segunda, e então começar a redigir, de forma coerente e comprovando todas as minhas teses com citações de terceiros, o trabalho mais fantástico que eu farei em minha vida. O irônico é que apesar de ser o trabalho mais fantástico que eu farei em minha vida, eu ainda continuo adiando, como eu sempre faço com tudo. Meu professor de história é foda.
A água já deve estar fervendo. A luz da coziinha está apagada, pois qualquer luz chama atenção, e o que eu menos quero é que meus pais acordem e vejam que eu estou acordado à uma da manhã. Eles sempre acham que eu tenho insônia quando me vêm acordado de madrugada e dizem que eu necessito ir a um médico, assim como disseram que eu deveria ir ao médico ver o meu nariz, que estava escorrendo. Ah, eu só tenho 30% do funcionamento total das minhas narinas.
A água está fervendo na chaleira. Eu passo a água para a pequena panela de ferver o leite – vulgo: leiteira. Espero um pouco e coloco o bagulho duro que daqui há uns poucos minutos se tornará um belo macarrão instantâneo, que eu vou comer imaginando ser uma macarronada.
Coloco Ketchup e maionese. Misturo. Pego uma caneca e vou para o meu quarto. Coloco um porção na caneca e começo a comer. Fico impressionado como uma coisa tão simples pode ser tão boa. Miojo é como o amor. Simples e gostoso. Inexplicável.

Termino o miojo. Lá pras quatro da manhã eu vou no banheiro e lavo a leiteira a caneca e o garfo. Gostei desse novo player do ubuntu. Gostei do filme que vi ontem. Gostei da introdução do trabalho que fiz hoje. Hoje foi um dia bom. Quando se consegue 51% de algo, já deve se agradecer, segundo Bukowski. Obrigado pelo dia de hoje. Meu nariz está mesmo fodido.

Eu agradeço, só não sei para quem.

caiçaras oscilantes

 meu povo, queimado de sol que só ele, unifica os grãos de areia, que perdidos pelo mundo vagueiam sob o vento em novas praias. praias do li...