Essa
vida é uma labuta medíocre.
Minha
cabeça está cheia de questionamentos existenciais e de poemas que ainda nem
comecei a escrever. Minha bexiga dói. Levanto. Vou até o banheiro. São duas da
manhã e eu tenho que acordar às seis. Santa mediocridade!
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Já
são cinco da manhã. Digamos que eu não tenha dormido tão bem assim.
O
dia já entra pela janela do meu quarto. Minha mãe faz questão de soar a voz
estridente pelo buraco da fechadura, abrindo oficialmente mais um dia de bosta
na minha vida medíocre. Eu sinto o gosto da derrota na minha boca. Eu quero
hibernar nessa cama ruim. Os lençóis fedem a suor e baba de um imbecil que não
sabe nem fechar a boca enquanto dorme. Mais uma vez o gosto de derrota. Penso
em Bukowski. Penso em Einstein. Penso em Newton. Será que todos os gênios são
obrigados a passar por esse tipo de coisa?
Dou
uma volta na chave. Abro. Ela já reclama aos quatro ventos as mesmas
reclamações de todos os dias. Eu caminho no corredor entre o meu quarto e o banheiro
como quem caminha nos corredores de Folsom. Quem caminha nos corredores de Folsom
sabe que está fodido, mas mesmo assim, não está nem aí. Quem caminha nos
corredores de Folsom só espera Johnny Cash cantar uma de suas músicas sobre
matar um cara lá em Reno.
Ligo
o chuveiro. É a primeira – e muitas vezes a única – coisa boa que me acontece
durante o dia. A voz estridente mais uma
vez. Saio do chuveiro. Visto o uniforme como quem quer voltar ao inferno
casual, como um preso que não quer ser transferido de cadeia. Calço os sapatos.
Tomo
café devagar, apreciando a comida. Apesar do gosto de pão, do saboroso suco e
de toda regalia de minha refeição, continuo com o gosto de derrota na boca. Não sei se
escovo ou não os dentes. Não sei se ponho o desodorante. Não sei se vivo. Mas
essa é uma questão que deve ser menosprezada.
Sento
na cadeira e espero o carro vir me pegar. Pelo menos isso.
É
uma mulher que dirige. Uma completa idiota. Tem um casamento em crise, filhos
que não conseguem empregos e contas a pagar. Ela ganha dinheiro transportando
alunos de suas casas até as suas respectivas escolas. Poupemos minha mãe e
afirmemos: quando eu entro no carro, tenho o primeiro desejo enorme,, de
chutar a cara de alguém. A cara dos três moleques idiotas que sentam no banco de trás. Por um
lado eu tenho pena deles, mal entram na vida e já estão fodidos, mas por outro
lado, eles são o lado ruim – ou seja: a maior parte – de um mundo futuro, um
mundo em que eu não quero viver, então... que se fodam!
As
crianças descem. Agora é só eu e a mulher. Eu tenho vontade de chutar a cara dela
também. Ela faz todo o percurso escutando um programa de rádio idiota. Ah, pra
variar, eu também tenho vontade de quebrar o rádio.
Eu
aumento a música nos fones de ouvido. Até que chego à porta da escola.
Desço
do carro já excomungando mentalmente o bando de imbecis que atravessam a rua
junto comigo. É nesse momento que eu perco a conta de quantas caras eu desejo
quebrar durante o dia. Eu entro na escola. A diretora, com seu sorriso sujo de
cigarros, batom borrado e seu rosto de dar náuseas recepciona os alunos podres
na entrada do corredor principal.
Vontade
de quebrar a cara dela.
Eu
caminho devagar no corredor. Pessoas, quase sempre com pressa, empurram-me.
Fodam-se. Alguns me desejam bom dia. Metade dessas pessoas não escutam
resposta. Estou ocupado demais tentando salvar-me do suicídio. A metade que
escuta resposta, não merece meu bom dia. Eu realmente não desejo que aquelas
pessoas que só pensam em me foder de todas as formas possíveis, tenham um bom
dia pela frente. Eu desejo que um caminhão passe por cima de seus corpos
inertes e os arraste ao longo da BR 101. E que eles vão direto para o inferno,
receber cutucadas de tridentes nos seus respectivos ânus.
Entra
o primeiro professor.
Filho
da puta. Tenho vontade de disparar com uma espingarda na cara dele. Nada contra
ele.
Pessoas
entram e saem durante toda a manhã naquela sala imbecil. Eu desejo estar
próximo de minha morte, pois admito que não sou corajoso a ponto do suicídio.
Pessoas entram e saem durante toda a minha vida. Nenhuma delas merece algo bom
de mim.
___
Agora
são duas da manhã. Novamente eu não consigo dormir. Eu sei que amanhã será mais
um dia medíocre. Eu sei que terei a esperança de que algo aconteça no fim de
semana. Mas eu sei que não vai acontecer nada. Eu sei que tudo vai ser repetir.
Minha
cabeça está cheia de questionamentos existenciais e de poemas que ainda nem
comecei a escrever. Minha bexiga dói. Levanto. Vou até o banheiro. São duas da
manhã e eu tenho que acordar às seis. Santa mediocridade!
Essa
vida é uma labuta medíocre.
Meu amigo, desculpa o sumiço, mas o momento é de mudança e nesse momento tenho tido pouco tempo de escrever, de postar, de visitar e de comentar... Mas quando possível, apareço pra deixar pelo menos um olá!
ResponderExcluirOlá!
Abração!