Olá, pessoas (desculpe se você for um alien ou um animal). Esse é um projeto que faz algum tempo que comecei a escrever e que só agora decidi compartilhar com vocês. Esse é só o primeiro dos contos de Nero. Depois eu posto mais.
1
Sou
o Nero. Não tive nada com o incêndio de Roma, nunca fui bem na escola e hoje
ganho dinheiro dando conselhos às pessoas. Tenho alugada uma saleta num prédio
comercial e atendo meus clientes lá. Acho que sou o único conselheiro da
cidade. Meus clientes são, no geral, mulheres de meia idade que estão
insatisfeitas com seus casamentos, empresários e outros tipos um tanto quanto interessantes.
Essas pessoas que entram aqui parecem todas iguais e sem capacidade de pensar. Elas parecem personagens de uma novela barata.
Sou gordo, uso óculos de grau que quase
me cobrem a cara toda e tento esconder a careca com os fios de cabelo que ainda
me restam. Mas de vez em quando o vento bate neles e minha careca fica à
mostra, mas nada demais.
Os nomes e acontecimentos aqui citados
são totalmente fictícios e qualquer semelhança com a realidade é de
responsabilidade do próprio leitor.
2
Pedi à secretária que chamasse o
próximo. Ouvi ela dizer com sua voz enjoada de dona de casa estressada e abafada
pela parede que divide meu “consultório” da sala de espera.
-
Sra.Luísa?
-
Eu
– disse uma voz de menina levemente adocicada.
-
Pode
entrar.
Ouvi os passos no corredor, ela vinha
de salto alto. Arrumei a minha camisa e descansei meu rosto no queixo olhando
um pouco ansioso para a porta. E por fim ela entrou. Uma menina ainda. Talvez
uns dezesseis ou dezessete. O cabelo vinha preso num coque no topo da cabeça,
era castanho claro. Vinha sem maquiagem nenhuma. Era bonita. Vestia um vestido
longo meio hippie e com certeza era a estranha da turma. Sentou-se na cadeira à
minha frente, tirou a bolsa das costas e ajeitou os quadris, procurando uma
posição confortável naquela cadeira dura de madeira. Ficou olhando pra mim,
esperando algo acontecer. Estava claramente incomodada com a situação.
-
Quantos
anos? - Eu perguntei, seco, brincando com umas bolinhas de ferro japonesas que
eu comprei pela internet.
-
Dezenove
- respondeu depois de uma tosse passageira – porque a pergunta?
-
Não
é tão comum meninas da sua idade entrarem por aquela porta. Geralmente meus
clientes estão com seus quarenta anos, crises de meia idade, sabe?
-
Sei...
-
Então,
o que posso fazer por você?
-
Olha,
eu nunca vim num lugar como esses, não sei bem como funciona...
-
Você
diz o seu problema. Eu tento ajudar. E você paga na saída para a recepcionista.
-
Mais
simples do que eu pensei – Ela disse arriando os ombros.
-
Pode
começar.
-
Hum...
É que... - Pausa – Todas as meninas da minha idade já – pausa – você sabe... -
fez um gesto com as mãos.
-
Entendo...
E você quer – fiz o mesmo gesto pra ela.
Ela ficou me olhando ingenuamente.
Talvez esteja um pouco envergonhada, deve ser difícil pra ela falar sobre isso
com um estranho. E ainda pagar.
-
Não
exatamente isso. Eu queria um relacionamento sério, sabe?
-
E
você tem alguém em vista?
-
Sim
e não. Ele é legal, mas às vezes é tão idiota.
-
Normal ele ser assim.
Quantos anos ele tem?
-
Dezessete.
- E você está apaixonado por ele a quanto tempo?
- Eu não disse que estava apaixonada...
-
Esse é o meu trabalho. A maior parte das coisas eu não preciso escutar para ter certeza. - Ela fica meio desconsertada – O que te faz pensar que ele é O CARA?
-
Na
verdade eu não acho que ele seja O CARA, mas é o que eu tenho agora. Eu acho
que seria bom arriscar. Sabe, eu não tenho nada a perder...
-
Olha
Luísa, aprofunde sua relação com esse rapaz, dê uma chance. Se você quer
namorar e tem uma oportunidade dessas na sua cara você não pode desperdiçar
assim. Às vezes a sorte só bate uma vez na sua porta, ele pode ser o homem da
sua vida.
Eu sempre termino meu conselhos com uma
frase de efeito, ajuda a dar um ar de poder. Apesar de clichê, ajuda. Eu acho
meio bobo o fato de eu ganhar dinheiro com isso. Geralmente eu dou opiniões tão
infantis, que qualquer um daria. Mas as pessoas ainda me pagam por isso. Acho
que ela têm pena de mim.
-
Dói?
-
Não
sei Laura, não sei. Nunca fiz isso com virgens.
-
Você
é tão interessante.
-
Obrigado,
se ganha isso vivendo.
-
Vou
guardar essa frase. Acho que volto depois pra te contar o que aconteceu.
-
Ok,
você não paga. Quando quiser aparece aí e diz pra recepcionista que é um
retorno.
-
Tá
bom, obrigada.
Se levantou e saiu em direção à porta.
Olhei pra bunda dela. Olhei para os saltos.
-
Tchau.
-
Tchau
– ela respondeu.
Continuei brincando com minhas bolinhas
de ferro. É calmante. Pedi pra recepcionista chamar a próxima. Arrumei a minha
camisa e descansei meu rosto no queixo olhando um pouco ansioso para a porta.
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Ninguém é autossuficiente de pensamento.