domingo, 20 de novembro de 2011

Degraus

               I

O suicídio pesa um pouco
e meus passos sonolentos
estão um pouco mais pesados

Todos os meu pequenos atos
Agora transformam-se
numa grande interrogação

Já li em livros cenas assim
Cenas de filmes melancólicas
com um final sem foco certo

Já li cartas tristes e frias
que não terminavam com um ponto
terminavam com um selo vermelho
fixado sob o sol quente no asfalto

Mais um cigarro que morre em mim
e eu que morro mais a cada cigarro
triste essa minha solidão

o suicídio pesa sobre mim
e eu mal consigo levantar a mão
e acender o próximo suicida

                      II

Que brisa serena que nunca senti!
Parece profetizar meu futuro incerto
sussurrando poemas em meus ouvidos

Toda esta manhã parece saber
Saber o que penso e o que vejo
tudo é um presságio triste

Não consigo abrir os olhos negros
não consigo ver esta manhã nublada
não quero não posso , não consigo

Tudo faz mais sentido com essa brisa
as palavras do livro que eu não acabei
e a flor que eu matei de sede

No ano passado chorei de saudades
mas agora não consigo, me sinto bem...
Talvez não seja um bom momento pra chorar

                  III

A brisa secou uma lágrima seca
a única que teve a audácia de sair
a única para turvar minha visão

que visão? estou de olhos fechados
ainda não tive coragem ou qualquer
sentimento parecido para abri-los

Tenho vontade de ver o que sinto
de ver meus dedos manchados
de ver o sol nascendo em meio aos prédios

Sinto que o sol me sorri
e que ele sabe do meu futuro
quero , mas não consigo abrir os olhos

Porque não quero enfrentar este momento?
Eu o esperei por toda minha vida
Já me vi milhões de vezes aqui

Mas agora que estou aqui
agora que esta brisa me avisa
não consigo enfrentar este monstro

há muito tempo venho me incomodando
com os pequenos problemas da vida
Tenho frequentemente me incomodado

Tenho me incomodado com a presença
a presença das coisas abstratas da vida
a presença de minha própria consciência

Já descrevi este momento em poemas
já sonhei antes de dormir
esperei por isso desde que nasci

      IV

A espera findou
e eu dou fim
ao poema
mais
triste
do dia
de hoje.

Um comentário:

  1. Excelente poema, captou intensamente uma idealização comportamental, boa postagem continue assim espero mais postagens em breve. Abraços.

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