quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

toró

e pensar que talvez a coisa que mais nos ligue seja o chão. Não só o chão, aglutinação de minerais, estudados pela geologia, em salas de aula abafadas nas instituições de ensino abarrotadas de gente qualquer. Não só esse chão de terra, de pedras e substâncias que fogem do meu conhecimento. O chão do quarto, forjado em cerâmica, com texturas de madeiras, assim como o meu. sinto-me como se ainda pudesse achar algum sentido nas salas de cinema infantil, nas notícias sobre política que brotam nas telas lcds, touchs e oculares. parece que no mundo, as telas se foram. de tinta à óleo, só tenho teus óculos enormes, tua boca depressivamente linda e as ruas de botafogo.
esperamos o trem expresso na estação de barcelona, partiremos para onde nosso fogo cessa, onde nossa lágrima evapora e o vapor desgastado, vai de encontro à grandiosidade que separa a minha voz da tua.
é como se tudo se completasse. sou o remetente, o correio e sua maldita farda será o intermediário e por fim, teus olhos, pequeninos, por trás dessas armações robustas, mais fortes que o próprio coliseum, lerão por fim minhas garatujas encerradas, mortas e inaptas, que se mexem apenas quando te descrevem.
Não, talvez o chão não seja o que mais nos ligue. há algo que esquece dos postulados da física e das equações químicas. há algo que dribla apenas com o jogo de cintura a existência de tudo, e colhe os lírios de vidro nos jardins cansados de minhas palpebras abarrotadas de cimento, lágrimas e do chico que eu não ouvi todos os álbuns.
e eu temo parecer clichê novamente, escrever mais uma das velhas coisas que borbulham amor. temo que me ache repetitivo no meio disso, de tantos adjetivos e advérbios. mas na verdade, o problema não está no clichê ou mesmo nas classes de palavras que você já deve estar habiatuada a perceber. Sabe, eu não lembro das minhas aulas de gramática, não lembro das regras de acentuação ou como se usa os porquês. eu só escrevo. e esse meu vício de querer dizer algo, de ter uma agonia pra moldar em palavras, de ter teus olhos para me ler é que ainda me mantém por aqui. eu só escrevo. só escrevo porque sei que isso é como uma dose pra você. e pra ser sincero, prefiro que me beba, me trague, me injete, se vicie em mim do que em qualquer outra coisa. e há egoísmo nisso sim, não posso negar nem lutar contra ele. mas é que minha poesia pede você. minha cama, minha vontade de comer todas as mulheres daqui, minha irreverência e minha timidez. o email institucional que recebemos e os semestres temporalmente iguais... é tudo estampado pelo teu rosto distante e plácido.

é quaresma, a quarta feira de cinzas passou, mas tudo anda tão cinza na quinta. na sexta é dia de não comer carne, pois minha tentativa de seguir a minha religião ainda está de pé. me sinto mais próximo. é fevereiro e eu perdi a conta dos dias. você também perdeu, não? sabe o dia do embarque, talvez. não há medidas em segundos, g.

essa estória de perder tudo não é de todo verdadeira.

3 comentários:

  1. Gosto quando você percebe que a minha angustia também é sua. O meu sonho é ser a sua poesia, fazer dela uma simples morada. Você é tudo o que eu queria numa sexta feira de cinzas

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  2. Quero te colocar em todas as minhas poesias

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  3. Bem essa vibe de enquanto isso, me distrai. E ao mesmo tempo nem é

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Ninguém é autossuficiente de pensamento.

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