domingo, 12 de maio de 2013

Caim VI

Preciso de novos deuses para idolatrar.
Já não me alegram as músicas no rádio. 
Posso até ter algo para dizer, espalhar
mas canso-me ao tentar elevar minha voz.
Canso-me ao caminhar, caminhar 
e perceber que nunca me distancio
de tudo que sempre me contornou.

Por falar em contornos, 
o meu rosto anda indelicado.
Sou jovem demais para rugas,
mas nem tão jovem para uma 
pele sadia e sem imperfeições.

Por falar em imperfeições, 
ando me olhando no espelho
e sinto falta de meus cabelos,
de conversar olhando no olho.
Sinto falta de um passado
que não é tão meu assim.

Por falar em mim,
disseram-me essa semana
que sou um jovem velho.
Um velho jogado 
num corpo sem rugas
e de pênis viril.
Um velho sacudido, desgastado e maltratado
por dezesseis anos de vida.

Tenho histórias sobre traições, 
e sobre pais que me viram 
transando com suas filhas.
Tenho histórias sobre roubos 
e sobre aprovações.
Aquela prova zerada, 
aquela média elevada 
no exame nacional...

Por falar em nação, 
meus amigos não me conhecem.
Sou um jovem velho escondido 
na carcaça de um humorista ruim.
Sou um fã de Drummond esquecido
no meio das musiquinhas sobre comunismo.

Por falar em Drummond,
sou um poeta perdido na cidade.
Um carro sem os faróis.
Uma luz a procurar escuridão.
Estou a procura de mim mesmo.
Se você me achar, rasgue esse poema 
e troque uma ideia comigo.
Quando se trata de palavras,
sou mentiroso. 

Eu não amo tanto quem disse que amaria para sempre.

Por falar em amor, é melhor acabar o poema por aqui.








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