Os trens sempre estão partindo.
O carvão queimando. A lâmina
do barbeador está me deixando
mais novo. Sem novos horizontes.
Sem novos horizontes. Sem praias.
Faz tempo. Muito tempo. Meu peito
agora alimenta-se de desejos. Beijos.
Não, a faca não foi amolada. Rasgaram
meu peito na força, não na lâmina da
faca. A lâmina não corta, nunca cortou.
Foi na ponta da unha. Na unha.
Tuas unhas de cores incertas.
Teu olhar que adentrava meu corpo sem
pedir licença, senhas ou pedágios. Sem
semáforos. Tua unha. Peito anestesiado.
O amor é a cura e também doença.
A doença e a cura não se conciliam
em meu corpo. Não tenho minhas mãos.
Nunca estudei medicina. Cabulei aulas de
biologia.
O coração mais sensato deste mundo
é o da galinha no churrasco de domingo.
Tenho marcas no corpo. Não tiro a camisa
em lugares públicos. Sou cheio de pontos finais.
Cicatrizes. O tempo não cura, apenas esconde.
Lágrimas agoam a semente do sorriso.
Mas o sorriso mais sensato deste mundo
é o do palhaço suicida.
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