eu não sei escrever mais poemas de amor.
não sou escritor das massas.
não sei usar aquelas palavras,
aqueles jardins, aqueles sorrisos,
aqueles versos preproduzidos
que marejam o olhar
no final da comédia
romântica.
eu não vejo mais filmes.
não sei mais chorar de felicidade.
sei chorar pra você. com você.
eu não sei mais pensar no futuro.
na casa e nos filhos. nos empregos ruins.
não sei comprar presentes e nem tenho
dinheiro para trazer a lua até você.
eu não leio Vinícius, Camões
e nem aquele tal livro de Neruda.
se um dia eu escrever
dois ou três versos de amor,
e de repente apareça uma rima
meio óbvia com a palavra "dor",
se um dia eu escrever algo assim,
se um dia eu subir nas mesa do
restaurante e gritar um "eu te amo",
se um dia eu disser que quero mudar
de rua pra morar do teu lado,
"se eu não te amasse tanto assim"
se [...]
eu não sei escrever poemas de amor.
mas o amor parece saber
escrever poemas sobre mim.
o amor e todas as outras angústias.
eu não sei escrever
poemas de amor.
a não sei que o amor
não tenha sido escrito
vivido ou mistificado.
sem margem, métrica, rima ou gramática.
eu não sei escrever poemas de amor.
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