domingo, 27 de maio de 2012

fedor


A primeira vez em que ele fez cocô, conscientemente, foi fascinante. Ele descobriu que a frequência, quase sempre, seria diária e ficou muito animado com a notícia.

Fez cocô nos lugares mais inacreditáveis. Uma vez estava num ônibus, perto do terminal, e sozinho. Baixou as calças discretamente, com medo de alguém do lado de fora do ônibus o visse fazendo aquela barbaridade. E que barbaridade! O cocô parecia se espreguiçar ao longo do assento. Ele terminou as coisas ali e desceu do ônibus sorrindo, feliz por ter cumprido a sua meta de cagar em lugares públicos e impróprios. Cagou no armário do irmão, na sala da escola e até – por incrível que pareça – num banheiro.

Depois que percebeu que todo mundo fazia cocô, passou a imaginar as pessoas mais improváveis fazendo-o , como a professora obesa de português, o professor peludo de história e até a sua mãe!

Depois do cocô, sua próxima descoberta sobre o comportamento biológico humano foi a masturbação. E consequentemente: o sexo.

Chegou à conclusão que todos ao seu redor faziam sexo. Chegou à conclusão que todas as mulheres tinham vaginas e todos os homens, um pênis. Ficou a imaginar os casais mais improváveis. O zelador da escola e a mulher que vendia verduras. O pai e sua professora obesa de português. Era agoniante o modo como ele raciocinava sobre essas coisas. Passou a se masturbar para sua pequena professora de geografia. Que mulher!

Num dia qualquer, perdeu a virgindade com uma namoradinha. Teve experiências homossexuais e transou com uma mulher casada. Foi pego na cama com esta última e foi morto com três tiros. Uma das balas acertou a glânde de seu pênis. Triste.

Foi um homem feliz. Descobriu o cocô e que todos praticavam esse ato horripilante. Descobriu o sexo e imaginou todos o fazendo. O próximo passo na cadeia biológica humana era a consciência.
Não chegou a descobri-la. Se descobrisse, chegaria a uma conclusão frustrante. Nem todo mundo pratica, e quem pratica, pratica no escuro, longe dos holofotes.

É fato. Primeiro a merda, depois o sexo e só então a consciência.
Muitos não saem da masturbação. Muitos se acomodam no sexo. Para outros, a sequencia é diferente. Mas sempre a merda vem antes.

Merda!

2 comentários:

  1. só você, hein menino...
    de inicio li meio receosa. literariamente me atrai a lama, o lodo, e a podridão, mas não os excrementos. ainda guardo certa aversão a isto. mas permaneci lendo. graças a Jah que permaneci. adorei. e, ao fim, sorri.

    um abraço,

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  2. Estou lendo um livro chamado "As Vidas Secretas do Cérebro"... Quando li esse conto lembrei do texto, porque no fim das contas, segundo o autor, é melhor que a consciência fique de fora mesmo de muitos processos da nossa vida... Hoje estou no trânsito entre a punheta e o sexo, mas às vezes dou cada cagada!!!

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