segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Meu povo

Num muro construído com pecados
eu me rendo ao mundo que tenta me fuzilar.

Tenho algumas canetas sem tampa,
uma dor grave no tornozelo esquerdo.
Unhas sujas e pelos no nariz.

Quem dera um porto, mesmo que sem barco...

Tenho provas escolares de três anos atrás.
Tenho minhas primeiras roupas numa gaveta.
Tenho livros de trinta anos atrás. 
Uma casa velha erguida em mentiras. 

Acordo às seis todos os dias,
mas às vezes durmo às quatro.
Caminho com os bois para o pasto.
Tenho um colchão fino e uma cama usada.
Uma mesa suficiente para mim.
Tenho um computador.

Ela tirou-me a paz interna.
Ela me jogou na parede. 
Gritou ao meu ouvido,
dizendo que estava bem.
Enquanto eu gritava da fossa,
pedindo sua ajuda. 

É sina de poeta. 
Temos que viver para a nossa escrita
e nossos amores têm que morrer por ela.

Não preciso de rimas
para fazer meu povo rir.

2 comentários:

  1. "É sina de poeta.
    Temos que viver para a nossa escrita
    e nossos amores têm que morrer por ela."

    Que riqueza, que sensível, que coisa linda! Quase choro! Obrigado!

    ResponderExcluir

Ninguém é autossuficiente de pensamento.

caiçaras oscilantes

 meu povo, queimado de sol que só ele, unifica os grãos de areia, que perdidos pelo mundo vagueiam sob o vento em novas praias. praias do li...