foda eh que eu te vejo de longe
e me sinto preso
aqui dentro desse quarto
sim, sao os mesmos problemas ha anos.
as aranhas nao sao as mesmas, mas
tenho desenhada em uma das paredes
a arvore genealogica dos aracnideos que
ja viveram neste quarto.
as teias sobrevivem aos anos, mas eu nao.
esse ecossistema ja evolui de maneira independente
do resto do mundo. os restos de biscoito,
meu dente doendo por causa do acucar
desse leite condensado e enfraquecidos
pela banda de limao
e pela caninha paraibana
tudo que eh roubado encarece
por entre os homens que valorizam
os pequenos furtos da vida efemera.
sim, a vida eh efemera,
como a mao que rouba o vicio dos cidadoes de bem,
como que por divida historica
para com os nossos colegas
pretos
ninguem vai sentir falta disso aqui,
assim como eu nao sinto da minha infancia,
dito isto, eu te permito levar embora
essas dores que nao sao suas.
mesmo quando vejo meus amigos,
quando bebo do mesmo copo
ou ate mesmo quando
finjo que nao olhei pra voces,
eu tento encarecidamente esquecer.
tento esquecer do que sou feito
do que tenho medo.
tento esquecer muita coisa,
coisas das quais eu deveria mesmo esquecer
e algumas delas coisas que apenas existem
e soam como o canto dos passaros
a me indicar mais uma noite que eu nao apaguei
quando a luz da tv apagou.
se eu nao deixo rastros,
nao tenho o que apagar,
sigo luminoso.
o mais importante eh lembrar que
nao ha nada na minha lista de pendencias.
estou quites,
caro leitor.
voce vai ter que me engolir,
pagou pra isso.
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Ninguém é autossuficiente de pensamento.