quarta-feira, 28 de abril de 2021

estamos quites?

 foda eh que eu te vejo de longe

e me sinto preso

aqui dentro desse quarto

 

sim, sao os mesmos problemas ha anos.

as aranhas nao sao as mesmas, mas

tenho desenhada em uma das paredes

a arvore genealogica dos aracnideos que

ja viveram neste quarto.

as teias sobrevivem aos anos, mas eu nao.


esse ecossistema ja evolui de maneira independente

do resto do mundo. os restos de biscoito,

meu dente doendo por causa do acucar

desse leite condensado e enfraquecidos

pela banda de limao

e pela caninha paraibana


tudo que eh roubado encarece

por entre os homens que valorizam

os pequenos furtos da vida efemera.


sim, a vida eh efemera,

como a mao que rouba o vicio dos cidadoes de bem,

como que por divida historica

para com os nossos colegas

pretos


ninguem vai sentir falta disso aqui,

assim como eu nao sinto da minha infancia,

dito isto, eu te permito levar embora

essas dores que nao sao suas.

 

mesmo quando vejo meus amigos,

quando bebo do mesmo copo

ou ate mesmo quando

finjo que nao olhei pra voces,

eu tento encarecidamente esquecer.

 

tento esquecer do que sou feito

do que tenho medo.


tento esquecer muita coisa,

coisas das quais eu deveria mesmo esquecer

e algumas delas coisas que apenas existem

e soam como o canto dos passaros

a me indicar mais uma noite que eu nao apaguei

quando a luz da tv apagou.

 

se eu nao deixo rastros,

nao tenho o que apagar,

sigo luminoso.

 

o mais importante eh lembrar que

nao ha nada na minha lista de pendencias.

estou quites,

caro leitor.

 

voce vai ter que me engolir,

pagou pra isso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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